Um novo mundo chamado METAVERSO
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Um novo mundo chamado METAVERSO
Por Joyce Barsotti Cunha
- novembro de 2022 -
A pandemia de COVID-19 obrigou a humanidade não só a encontrar novas formas de se relacionar a distância, mas também a repensar a forma como ensinamos e aprendemos.
Surfando nesta onda, o metaverso, um espaço digital 3D que mistura o mundo real e o mundo virtual, tem sido anunciado como uma tendência da educação do futuro.
Eu ouso dizer, com base apenas em minha experiência pessoal, que o setor da educação é um dos que mais custa a inovar. Basta uma espiada em salas de aula ao redor do mundo para perceber que muito pouco mudou desde o século XIX. A chamada “pedagogia da nuca”, em que os estudantes só se veem de costas, ainda predomina. Os professores ainda ficam à frente da turma, muitos ainda se achando os detentores supremos do saber. Quando muito, vemos o giz sendo trocado por uma lousa digital, e uma ou outra tecnologia espalhada pela sala (muitas vezes sendo usada de forma equivocada), o que não diz muito sobre melhorias nos processos de ensino e aprendizagem.
Esse é um assunto que me tira o sono, mas esse artigo não é sobre as mazelas básicas da educação. Basta aqui estabelecermos que o mundo muda rápido, e a educação precisa acompanhar.
Responda com sinceridade: há tanta diferença assim para as escolas de hoje?
Enfim, continuando…
Como surgiu o metaverso?
Reparou que o Facebook teve o nome trocado para Meta? Não, não foi uma coincidência. O tio Zuckerberg não dorme em serviço, e essa já é uma referência ao próximo capítulo da Internet: o metaverso.
O termo metaverso (meta = além e verso = universo) foi cunhado no romance de ficção científica de Neal Stephenson, Snow Crash, de 1992, no qual humanos, como avatares programáveis, interagem uns com os outros em um espaço virtual tridimensional que usa a metáfora do mundo real.
Da ficção para o mundo real, o conceito de metaverso foi ganhando força, e é um dos assuntos mais comentados dos últimos meses.
Uma Nova Forma de Ensinar e Aprender
A nova geração de headsets de realidade virtual (RV) é o portal para o metaverso. Os usuários podem se mover livremente por um cenário 3D e interagir com o mundo ao seu redor com as mãos, como na vida real.
A RV envolve o sistema motor do cérebro e constrói a memória muscular. Assim como um simulador de voo prepara os pilotos para pousos de emergência, a RV pode treinar qualquer coisa, desde habilidades agrícolas até combate a incêndios. Habilidades que jogam com as forças únicas do metaverso incluem treinamento espacial, como envolver as mãos e o corpo em tarefas que são muito perigosas, caras, inconvenientes ou simplesmente impossíveis de praticar na vida real. Outros exemplos incluem a simulação de cenários para operações rotineiras e atípicas, resposta a emergências, situações estressantes no local de trabalho, procedimentos críticos e eventos de alta consequência - tudo em um ambiente seguro e controlado que pode ser repetido até que se torne algo natural.
6 maneiras pelas quais o metaverso pode impactar positivamente o aprendizado e o desenvolvimento de capacidades
1. Aprender e conectar-se em um ambiente virtual imersivo
Antes e durante o COVID-19, o aprendizado já havia começado a passar das salas de aula físicas para espaços mais virtuais e mistos. O metaverso facilita uma vida imersiva em espaços virtuais; os alunos podem mergulhar em diferentes módulos de aprendizado, visitar bibliotecas e salas de descanso, conhecer treinadores e conselheiros e sair com colegas.
Essas experiências digitais podem realmente democratizar a educação, reunindo pessoas de locais geograficamente afastados e origens econômicas variadas para aprender, de forma econômica, flexível e com duração mais rápida.
2. Aprimorar as habilidades do mundo real em ambientes virtuais e híbridos
O metaverso fornece oportunidades de vivência de situações de alta pressão em cenários do mundo real, onde você pode cometer erros sem consequências. Quando bem projetado, o ambiente combina RV com ciência de dados e design espacial para melhorar o envolvimento, a confiança e a motivação do aluno. Alguns exemplos dos benefícios do treinamento no metaverso incluem:
• Aprendizagem experiencial - A farmacêutica Novartis treina habilidades de laboratório que salvam vidas com simulação de realidade virtual. Os alunos entram em um laboratório virtual para interagir com instrutores e praticar soldagem de tubos, remoção de tampas de embalagens e rotulagem de embalagens com repetições ilimitadas.
• Prática deliberada - O metaverso fornece prática intensa e loops de feedback, nos quais os alunos praticam muitas variações de um conceito para aprimorar suas habilidades. O jogo Spark City, utilizado em treinamentos no Walmart, é diferente toda vez que o jogo é jogado. Se os clientes aparecerem a menos de 3 metros de distância, os jogadores devem perguntar se podem ajudar, mas não sem antes de verificarem os riscos à segurança.
• Desenvolvimento da inteligência emocional - A Providence Health desencadeia o estresse psicológico de responder a microagressões no local de trabalho usando um ator que aparece ao vivo, em 3D, através da lente da câmera do seu celular ou tablet. Como um holograma parado na sala à sua frente, ele simula situações reais do dia a dia.
3. Explorar mundos diferentes por meio da visualização e da narrativa
A visualização e a narrativa são duas características de uma experiência de aprendizado do metaverso e muito necessárias hoje após a profusão de experiências chatas e repetitivas com o Zoom durante o COVID-19. Por meio da tecnologia RV, os alunos podem entrar em um mundo totalmente diferente ou no lugar de outra pessoa. Por exemplo, a empresa de assistência médica DaVita desenvolve a empatia pelo paciente usando uma história interativa e multissensorial em primeira pessoa.
Entrar em metamundos facilita a visualização de cenários, incluindo complexos desafios de desenvolvimento. Por exemplo, um aluno pode usar um headset RV para examinar a transformação de uma rua no sul da Ásia ou explorar a vida em uma Smart City verde. Por meio de pequenas histórias em 360 graus, passeios virtuais e visualizações, os alunos “entram” em desafios cruciais de desenvolvimento global, incluindo mudanças climáticas, educação, gênero, desenvolvimento urbano, comércio internacional e saúde pública.
4. Desenvolver capacidades humanas em situações interpessoais ou difíceis
Garantir uma equipe bem treinada em habilidades interpessoais, como comunicação, liderança, escuta e empatia é algo difícil de alcançar e também de medir. O metaverso facilita esse processo imergindo os alunos em conflitos do mundo real e permitindo que eles pratiquem suas habilidades interpessoais em um ambiente seguro, por exemplo, tendo conversas delicadas ou difíceis com funcionários ou clientes.
Para a equipe da Verizon, empresa especializada em telecomunicações, os cenários de treinamento de segurança relacionados a roubos podem criar uma sensação de perigo. Ao usar a RV, a Verizon ajudou mais de 22.000 associados em 1.600 lojas a treinar para esse cenário complexo; a empresa informou que 97% dos treinados disseram que se sentiram preparados quando colocados em tais situações perigosas.
5. Melhorar a acessibilidade para pessoas com deficiência
O metaverso promete melhorar o acesso educacional e social para pessoas com deficiência. Por exemplo, um ambiente imersivo oferece a jovens adultos com autismo e problemas de interação social a capacidade de melhorar suas habilidades interpessoais e de trabalho, como visitar um shopping ou supermercado, guardar produtos em uma loja ou carregar mercadorias em um caminhão. Por meio de aplicativos de realidade virtual, eles podem praticar habilidades e interagir com outras pessoas em um ambiente seguro sem se sentirem sobrecarregados ou ansiosos.
A RV também pode ajudar pessoas com problemas de mobilidade ou ansiedade a melhorar sua qualidade de vida. Por exemplo, a instituição de caridade Starlight usa a tecnologia RV para dar aos pacientes pediátricos a chance de “escapar” das paredes do quarto do hospital e serem transportados para outro mundo. Por meio de óculos de realidade virtual, eles experimentam jogar futebol, sair com os amigos ou visitar lugares distantes.
6. Aumentar a captura de dados sobre o desempenho do aprendiz
Usar o metaverso para criar experiências de aprendizado imersivas permite que as organizações coletem dados até então inexplorados para obter insights sobre o comportamento do aluno e acompanhar seu progresso, identificar lacunas e melhorar continuamente a experiência de aprendizado. Os professores também podem desempenhar um papel mais ativo na coleta de dados e na análise das atividades sobre a eficácia desses ambientes de aprendizagem. Por exemplo, os movimentos das mãos são rastreados nos simuladores farmacêuticos da Pfizer, Novartis e Bristol Myers Squibb. Se os usuários cruzarem as mãos ou as posicionarem da maneira errada sob o gabinete de biossegurança, o simulador imediatamente fornecerá feedback e reiniciará. Cada pegada digital pode ser medida e um painel de dados de telemetria pode fornecer insights para melhorar a experiência de simulação.
Metaverso: bênção ou maldição?
É indiscutível que as escolas precisam se reinventar. E com urgência!
E, como todas as inovações tecnológicas, não é difícil pensarmos nos inúmeros benefícios que o metaverso pode trazer. Mas eu quero chamar atenção aqui para alguns pontos.
Primeiro, que educadores e pais terão dificuldades em estabelecer como o metaverso deve ser integrado no ensino e na aprendizagem. Ele oferece um número ilimitado de possibilidades educacionais, mas os riscos, principalmente para as crianças, são desconhecidos neste momento. Em mundos 3D totalmente imersivos, os alunos estão dentro de seus ambientes e o que está acontecendo ao seu redor pode não estar aparente para os adultos, o que certamente irá gerar insegurança e frustração.
Além disso, como as crianças e jovens reagirão emocionalmente à medida que forem expostos a ambientes virtuais cada vez mais “realistas”? O que acontece se a diferença entre realidade e fantasia começa a ficar confusa?
O metaverso irá também ampliar os problemas já enfrentados pelo uso de redes sociais, como o aumento dos níveis de depressão, violência, comportamento antissocial, preconceito e discriminação.
Essas são apenas algumas das questões complexas relacionadas a um ambiente metaverso, e por isso eu recomendo cautela, mesmo que seja fácil nos encantarmos por este novo universo.
Viver em um mundo simulado, onde nossas ações parecem não ter consequência, pode ter um caráter educativo, mas tudo que nos afasta da realidade traz um risco.
O que você pensa sobre esse assunto? Já tinha ouvido falar sobre o metaverso? Comente aqui.
Psicóloga, Pedagoga e apaixonada pelo mundo da Educação. Fundadora da myJoy Academy.